25 de novembro de 2008

Gestão Ambiental e o "Exemplo Brasileiro"


O tempo passa e continuamos a ver nos noticiários o "recorde" brasileiro, "exemplo internacional" no quesito reciclagem de latas de alumínio. Segundo Associações do setor e publicado em diversas mídias, o Brasil reciclou 96,5% das latas de alumínio utilizadas para bebidas no ano de 2007. O aproveitamento segundo estas associações, chegou a 160,6 mil toneladas de sucata de latas (correspondente a 11,9 bilhões de unidades). Isto mantém o Brasil na liderança mundial de reciclagem. Para se ter uma idéia, este mercado movimentou em 2007 cerca de R$ 1,8 bilhão e significou uma geração de emprego e renda para cerca de 180 mil pessoas. Um dos argumentos utilizados [sic] é a economia de energia gerada pela reciclagem, que chega a "1.576 GWh/ano, o que equivale a 0,5% de toda a energia gerada no país e o suficiente para abastecer uma cidade como Campinas, de 1 milhão de habitantes.... a energia utilizada é de apenas 5% do que seria necessário para produzir a mesma quantidade de novas latas".

Verdadeiro exemplo ecológico, certo? Errado. O Brasil é recordista em troca de latas de alumínio por arroz e feijão. Catar lixo virou a única fonte de renda de milhões de brasileiros, isso não é exemplo ambiental, e sim exemplo de exclusão social. Quantas mães puxam carrocinhas com suas crianças amontoadas ao lixo, enquanto deveriam estar nas escolas. Se quiséssemos ser um exemplo mundial, deveríamos bater o recorde de utilização de embalagens retornáveis (vidro), pois a reutilização sem reciclagem gasta muito menos energia no processo produtivo e de fato ajuda o meio ambiente. Para isso vamos bater na preguiça e no hedonismo do cidadão, que prefere jogar no lixo uma lata do que buscar na despensa de sua casa algumas garrafas vazias para trocar no supermercado. Isso, de fato, estas associações não querem fazer, pois reciclar virou um grande negócio, com uma fachada verde. Volto a insistir, tire uns minutos e assista ao vídeo no rodapé desta página, tenha coragem de mudar seu paradigma. O cidadão verdadeiramente consciente é capaz de distinguir fatos ecológicos de discursos falaciosos.

5 de novembro de 2008

Sugestão para os EUA

Logo abaixo colocamos o grande paradoxo do Hussein, negro, descendente de mulçumanos chegar à presidência dos EUA. A euforia tomou conta de todos nós, eu confesso a minha.
Agora outro grande paradoxo vale ser explicitado. Vocês repararam o processo eleitoral norte americano? O que foi aquilo? É quase medieval, nem vale enumerar, é muita coisa arcaica. Gostaríamos de sugerir ao nosso ministro do STE - Supremo Tribunal Elitoral exmo Ari Pargendler, que faça uma apresentação do que é evolução em sistema eleitoral lá na Casa Branca. Na dúvida é bom levar um notebook, vai que lá só tem máquina de escrever? Podia salvar em disquete também, daquele pequeno, lembram? Nunca se sabe. Outra coisa que preocupa... será que a Casa Branca está paga? Espero não ser financiada...

1 de novembro de 2008

Como Funciona a Bolsa de Valores

Eu já li diversas explicações sobre o funcionamento da bolsa de valores. Nenhuma explicação me pareceu tão boa quanto esta que recebi e postei abaixo, de autor desconhecido. Por que achei boa? Tire suas próprias conclusões e deixe seu comentário. Uma vez, num pequeno e distante vilarejo, apareceu um homem anunciando que compraria burros por R$10,00 cada. Como havia muitos burros na região, os aldeões iniciaram a caçada. O homem comprou centenas de burros a R$10,00, e como os aldeões diminuíram o esforço na caça, o homem anunciou que pagaria R$20,00 por cada burro. Os aldeões foram novamente à caça, mas logo os burros foram escasseando e os aldeões desistiram da busca. A oferta aumentou então para R$25,00 e a quantidade de burros ficou tão pequena que já não havia mais interesse em caçá-los. O homem então anunciou que compraria cada burro por R$50,00! Como iria à cidade grande, deixaria seu assistente cuidando da compra dos burros. Na ausência do homem, seu assistente propôs aos aldeões: - "Sabem os burros que o homem comprou de vocês? Eu posso vendê-los a vocês a R$35,00 cada. Quando o homem voltar da cidade, vocês vendem a ele pelos R$50,00 que ele oferece, e ganham uma boa bolada". Os aldeões pegaram suas economias e compraram todos os burros do assistente. Os dias se passaram, e eles nunca mais viram nem o homem, nem o seu assistente, somente burros por todos os lados."
Entendeu agora como funciona o mercado de ações? A queda dos tigres asiáticos foi uma história bastante parecida: não eram aldeões, mas executivos de multinacionais em Bancgkok. O senhor que inventou a história dos burros e foi embora? George Soros. Até hoje estão esperando compradores para centenas de edifícios comerciais e de serviços Quanto a crise atual, não há um, mas vários donos de bancos de todo o mundo que ganharam muito dinheiro com esta quebradeira...

30 de outubro de 2008

Surto Ideológico

A última crise mundial está provocando um verdadeiro surto ideológico, vamos ver a razão.
Imagine se estivéssemos há dez anos atrás e ficássemos sabendo que George War Bush (o filho) estatizaria bancos, para salvá-los. Imaginem então Greenspan dizendo que estava errado ao dizer que o mercado deveria se auto-regular. Agora imagine o diretor gerente do FMI dizendo que o sistema financeiro mundial estaria sofrendo um derretimento sistêmico. Para fechar, imagine o presidente Lula dizendo em um comício, que todos deveriam ir as compras, para manter o mercado aquecido. "Comprem, comprem, comprem, evitem a síndrome do pânico da crise, vamos às compras..." O que está acontecendo? O comunismo foi a bancarrota tem algum tempo. Agora o capitalismo e sua doutrina neoliberal despencou como o muro de Berlim. O que irá suceder o embróglio sistêmico que estamos assistindo? Se o grande vilão do nosso planeta é de fato o padrão de consumo, esta crise veio em boa hora, para que possamos refletir sobre os recursos naturais e nossa tendência à depredação da natureza. Quem sabe não surge um novo sistema, participativo, sócio-ambientalmente correto, global, racional e, pasmem, atendendo aos pedidos dos grandes e atuais líderes capitalistas mundiais: REGULADO! Eu não estou louco, isto está acontecendo.

28 de outubro de 2008

A prioridade é Sanear

Cada vez fica mais evidente que a questão ambiental deve ser focada de forma diferente, em cada contexto, em cada país, em cada comunidade... lá está o problema da vez. No Brasil, falar tanto em aquecimento global, acaba se tornando cortina de fumaça. Os números mostram que no Brasil a prioridade ambiental imediata é o saneamento básico: água tratada e coleta e tramento de esgotos. Por que? Porque é uma insanidade pensar em problemas a longo prazo com crianças morrendo por doenças de veiculação hídrica. Segundo o o Instituto Trata Brasil e a FGV, somente 47% da população brasileira possui redes de esgoto. Para se ter uma idéia, segundo dados desta pesquisa:
"...sete crianças morrem todo dia no país, vítimas de diarréia e outras 700 mil pessoas são internadas a cada ano nos hospitais públicos devido à falta de coleta e tratamento de esgoto. Mais de 100 milhões de brasileiros não dispõem de rede de coleta de esgoto sanitário e 48 milhões ainda usam obsoletas fossas sépticas. Nas zonas rurais a coleta atinge apenas 4% da população. [...] Nos últimos quatro anos, o investimento foi de 0,22% do PIB, quando deveria ser de 0,63%. Cada R$ 1,00 investido em saneamento representa uma economia de R$ 4,00 em gastos com saúde."
A foto abaixo é um retrato vivo da cultura brasileira desprovida de saneamento: o córrego é o meio de transporte de lixo e esgoto; a casa invade a mata ciliar, irregularmente construída sobre a margem; o banheiro está posicionado de forma a liberar o esgoto diretamente sobre o córrego. Em época de cheias o esgoto invade a casa, sem contar que as crianças brincam na água contaminada.
Para quem pensa que saneamento é apenas água tratada e coleta e tramento de esgotos e está tranquilo por morar em região urbanizada, está enganado. Sanear é limpar, independente de qual seja a sujeira do local. Vejam abaixo. Para os paulistanos, uma prioridade imediata é reverter a poluição atmosférica. Recentemente ficou comprovado que morar em São Paulo, mesmo combatendo o cigarro, fuma-se um cigarro por dia somente inspirando o ar poluído da cidade. A foto abaixo foi tirada de avião, minutos antes de pousar no aeroporto de Congonhas. Resumindo: TODO PAULISTANO FUMA. Tire suas próprias conclusões...

24 de outubro de 2008

Hussein presidirá os EUA


Quem viveu o 11 de setembro, jamais imaginaria que os EUA teria um presidente chamado Barak Hussein Obama. É um grande, talvez feliz, paradoxo. George W. Bush vai embora da casa branca com a popularidade em baixa, igual o preço do petróleo e o sucesso da guerra do Iraque. Parece que deu tudo errado para G. War Bush.
Agora o que pode significar um novo presidente norte-americano negro e descendente de muçulmanos? Vale pensar. Será que os mulçumanos radicais queimarão fotos do novo presidente com a mesma intensidade? E as bandeiras? Que partido Obama pode tirar de sua história genética no sentido de buscar uma conciliação mundial? Wind of change na esfera política mundial, a crise mundial coincide com esta virada norte-americana... puro acaso?
Até este momento, é inevitável admitir o contentamento pelo carisma de Obama e a real possibilidade de mudança. De início, parece contar com o apoio de todo o mundo.

Prenúncio do estado mundial

Os estudiosos do verdadeiro desenvolvimento sustentável, vêem com certo otimismo a atual crise econômica mundial. Sabe-se que o maior vilão da deterioração do planeta é o consumo desenfreado, que é justamente o primeiro a ser atingido pela crise mundial. Em relação ao que estamos vivenciando, podemos escolher a expressão "queda no PIB mundial" ou, se preferirmos, "diminuição do consumo de supéfluos". A recessão mundial está criando o clima para grandes reflexões neste sentido. O Instituto Visão Futuro, com o apoio do SESC promove dia 29 de outubro no SESC Pinheiros a I Conferência Nacional sobre FIB (Felicidade Interna Bruta) e conta com personalidades influentes da política e academia nacionais. A variável felicidade tem sido a mais citada para entrar no novo PIB. Este debate sempre esteve presente nos bastidores da academia, agora ganha o palco principal.
O presidente Francês Sarcozy, encomendou aos prémios Nobel da Economia Joseph Stiglitz (2001) e Amartya Sem (1998) o cálculo de uma medida de crescimento económico que “leve em conta a qualidade e não apenas a quantidade”. A questão central do debate é a seguinte: se o desenvolvimento sustentável que todos dizem defender, possui cinco dimensões, por que o PIB avalia somente a dimensão econômica?! Está furado! E agora, com a crise mundial, está provado!! Ouçamos as vozes de alguns "papas" e, por que não dizer, náufragos do neoliberalismo:
Allan Greenspan (23/out/08): "Eu cometi um erro em supor que o interesse das organizações, especialmente dos bancos e de outras empresas, faria com que elas estivessem melhor capacitadas para proteger seus próprios acionistas e suas ações nas empresas (...) aqueles de nós que acreditavam que era do interesse das instituições credoras proteger seus acionistas, incluindo eu, estamos incrédulos, em estado de choque." Greenspan ficou 16 anos à frente do FED e é considerado um dos papas do neoliberalismo.
Dominique Strauss-Kahn (11/out/08): "As intensas preocupações sobre o resgate de algumas dos maiores instituições financeiras dos EUA e da Europa empurraram o sistema financeiro global para perto do derretimento sistêmico." Kahn é diretor gerente do do FMI.
Se pensarmos grande a partir disto, veremos que uma solução é um sistema de regulação mundial, que pense em ações coordenadas para todo o globo e que leve em consideração as dimensões social e ambiental, e não apenas econômica e científico - tecnológica. Como fazer isto? Pode parecer utópico, mas os fatos estão mostrando e, as próprias cabeças geradoras desta crise estão repetindo: é preciso uma ação coordenada globalmente, pensando em todos, não mais em alguns interesses apenas. Isto não seria o prenúncio de um estado mundial?!

22 de outubro de 2008

A História das Coisas

No rodapé deste blog está disponível um pequeno vídeo intitulado The Story of Stuff - A História das Coisas. Este vídeo de 21 minutos é uma síntese da melhor reflexão sobre o meio ambiente que temos na atualidade. Ali estão os principais conceitos que fazem parte da pauta de discussão madura sobre meio ambiente. Vale a pena!

Você já bebeu esgoto?

Calma, a pergunta é facilmente explicável. Alguns países já estão partindo para esta solução no abastecimento público de água. Logicamente há um aspecto cultural forte e um risco à saúde, porém nossa sociedade vai acabar se acostumando com isso, num futuro não muito distante. As políticas públicas estão cada vez mais obrigando a adoção de medidas que visem o uso racional da água, a captação de águas pluviais e o reuso de água. As grandes cidades do Brasil já implantaram ou estão discutindo leis que visem proteger este importante recurso. O último município que implantou uma legislação que versa sobre este tema foi Foz do Iguaçu: http://www.camarafoz.pr.gov.br/pdf/projetos/712.pdf vale a pena conferir. Há inúmeras soluções para o tratamento de esgotos: econômicas e naturais que requerem certa manutenção, soluções tecnológicas e caras porém bastante práticas, enfim, nossa cultura em relação ao saneamento está mudando e isso é muito bom para as gerações futuras. Quando se pensa em beber esgoto, logicamente, isto é possível com o tratamento adequado e que a água na ponta do sistema atenda à legislação concernente, ou seja, a resolução 357 DE 17/03/2005 do Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Segue um artigo interessante sobre a nova resolução do Conama apontando algumas lacunas: http://www.revistaanalytica.com.br/analytica/ed_anteriores/21/art06.pdf
A técnica utilizada após tratamentos convencionas de esgoto sanitário visando torná-la potável é a omose reversa. A osmose reversa é hoje a técnica mais eficaz no tratamento de água, remove vírus, bactérias e componentes metais e minerais tóxicos. Já existem equipamentos comerciais sendo vendidos no Brasil a custos acessíveis. Em tese, qualquer água pode ser bebida desde que atenda a estes critérios que garantem a saúde do ser humano.
Você leitor, nunca bebeu água proveniente de um sistema de tratamento de esgoto, mas provavelmente você já bebeu água tratada por osmose reversa. Há uma famosa marca de água sendo vendida por uma multinacional, praticamente em todos os estabelecimentos que comecializam bebidas, que é uma água "filtrada, clorada, tratada por osmose reversa e adicionada de sais minerais". Esta água tem cara de água mineral, mas é água filtrada! Que fique claro, não se trata de água proveniente de esgoto, eu mesmo a bebo de vez em quando...!

21 de outubro de 2008

Afinal, a água vai acabar?!

É impressionante o terrorismo em relação a escassez de água que tem sido levantada pela mídia de um modo geral. A quem interessa isso? Vamos por partes. Primeiramente, vale ressaltar que a quantidade de água no planeta é a mesma há milhões de anos, provavelmente todos nós estudamos o ciclo da água quando éramos crianças, mas parece que cai no esquecimento por parte da população em geral. Desta forma, não vai acabar! O que está acontecendo, é que as aglomerações urbanas, drasticamente poluidoras, inviabilizam o consumo da água da bacia onde estão instaladas. O sistema Cantareira que junto com a billings abastece a grande São Paulo, está com os dias contados; o mesmo capta da bacia do Piracicaba 33m³ por segundo, e já é pouco. A grande Vitória no Espírito Santo, que utiliza as águas dos rios Santa Maria da Vitória e Jucu, segundo especialistas da UFES, estarão exauridas em menos de 10 anos. No Rio de Janeiro, a bacia do rio Guandu, que mais parece um canal de esgoto, é outro exemplo. Todos praticamente exauridos Parte do sistema carioca vem do rio Paraíba do sul, também bastante poluído. Há um limite, a sociedade precisa aprender a otimizar o uso dos recursos hídricos. Boas práticas podem chegar a 50% de economia, seja no uso doméstico ou industrial. Isto daria um grande fôlego à nossas bacias hidrográficas. Como nossa população tende a diminuir as taxas de crescimento, segundo o IBGE, podemos chegar a uma situação de equilíbrio. Mas as ações de mitigação e reuso, são fundamentais.
Mas se podemos chegar a um equilíbrio no Brasil, por que tanto alarme?! O interesse em jogo é encarecer o preço da água. Experimente, vá a uma prateleira de supermercado, destes mais modernos e "globalizados", e faça uma pesquisa sobre as marcas de água mineral ofertadas: nestlé, coca - cola, pepsi... ficou claro? Fiz isso recentemente no Rio de Janeiro, das oito existentes, seis eram multinacionais, ou seja, o mercado de água mineral do Brasil já está praticamente sob o controle de multinacionais. Já estão chamando este recurso de "ouro azul", e o Brasil é, neste caso, o futuro do mundo. Sendo assim, muita calma nesta hora, há soluções sim e não precisamos pagar caro por isso. Imaginem se FHC tivesse conseguido privatizar o saneamento no Brasil? Dá para imaginar os planos de consumo de água, semelhante ao que pagamos com telefonia hoje, seria hilário. Já imaginou um banho pré-pago? Se não estivéssemos assistindo aos absurdos de preços de tarifas de celulares, seria engraçado, mas é factível. Por sorte nossa ou suor de alguns deputados e senadores, FHC não conseguiu. A dualidade entre o público e privado é saudável, equilibra o sistema. Hoje há sistemas públicos e privados na gestão da água de abastecimento público, já existe até uma certa concorrência para provar quem é mais eficiente, isto é bom.
É um consenso entre cientistas que o maior risco da humanidade hoje é a escassez de água. Alguns podem achar que é o aquecimento global, mas não é. O globo pode sim, estar esfriando! Pasmem, tem gente séria pesquisando o assunto por este viés. http://terra.com.br/istoe/edicoes/1967/artigo55150-1.htm Leia e tire suas próprias conclusões. Há interesses pesados - para variar - nas políticas públicas sobre estes temas. O Molion não é a única andorinha, o problema é que a mídia não produz o debate. Agora em relação à água, é consenso sim, a água será mais cara e rara. Neste sentido, antecipar a discussão sobre a escassez é fundamental. O quanto antes nos acostumarmos a captar águas pluviais, tratar o esgoto para produir o reuso de água melhor. Os netos da atual geração serão gratos - planejamento macro. O uso racional da água tem grandes defensores, que pouco falam em reuso de água e captação de águas pluviais. A sociedade requer articulação entre todos os atores e suas respectivas soluções em recursos hídricos, isto pode ser dar nos comitês de bacia, como foruns sociais de discussão locais.

O Saneamento no Brasil: Cachoeiro x Santo André

FHC tentou, fez de tudo, mas não conseguiu privatizar o saneamento no Brasil. Isto se deu graças à constituição de 1988, que dá ao município a titularidade do saneamento. As companhias estaduais não podem ser privatizadas porque não detêm esta titularidade, os municípios entrariam na justiça e ganhariam a causa, com toda a certeza. Desta forma o governo FHC propôs a Lei das Concessões, a famosa Lei 8.987/95 (Lei de Concessões de Serviços Públicos) e propiciou a privatização dos SAAEs (serviços autônomos) de todo Brasil, já que as CESBs (companhias estaduais) estavam insconstitucionalmente bloqueadas para serem privatizadas. Isso foi bom ou ruim? Pergunta difícil de responder. Há um certo corporativismo nas CESB's e SAAE's, como uma blindagem à privatização. É quase uma unanimidade a contrariedade à privatização por parte da esquerda política e/ou funcionários destes estabelecimentos. Por outro lado, na política de centro - direita, é quase uma unanimidade que a única saída para o saneamento do país, é a privatização. Lógico, são interesses antagônicos. Este impasse me levou a entrevistar uma das maiores cabeças pensantes do saneamento do país: Ricardo Toledo Silva. Ricardo sempre foi um defensor do estado como gestor da coisa pública, até o dia em que foi convidado para prestar consultoria a uma grande CESB do Brasil. Poucos meses depois de iniciado o serviço, resolveu simplesmente ir embora, sem receber nada, tamanha sujeira encontrada, irreversível. Segundo Ricardo, naquele caso, a única saída era a privatização. Muitas vezes este tipo de consultoria pode por em risco a vida do próprio consultor, pois chega um ponto que a sujeira aparece e o laudo irá indicar o que precisa ser mudado. Muito complicado. Com tudo isso, resolvemos investir na investigação comparando dois modelos: público e privado. Neste caso escolhemos o SEMASA de Santo André e a Citágua de Cachoeiro de Itapemirim. Privatizar o SEMASA seria uma grande burrice, pois o SEMASA funciona, tem um espectro de atuação que abrange as cinco variáveis básicas de saneamento ambiental: esgotos, abastecimento de água, drenagem urbana, resíduos sólidos e controle de vetores. O aterro sanitário de Santo André possui a certificação ISO 9000; o andreense paga uma única conta de saneamento ambiental que abrange todos os serviços. Há coleta seletiva que funciona, a cidade é limpa, enfim, um modelo.
Já Cachoeiro de Itapemirim no ano de 1998, quando o SAAE foi privatizado, desperdiçava quase a metade da água produzida em vazamentos; havia racionamentos no verão; era um cabide de empregos, não tinha técnicos gabaritados nem recursos. Foi privatizado, hoje a ETA de Cachoeiro possui ISO 9000, a ETE funciona e boa parte do esgoto da cidade é coletado e tratado. Falta na realidade mais cobrança do cachoeirense para que o Itapemirim e seus afluentes que ficam na área de abrangência do município, sejam de fato despoluídos. Mas o fato é que a Citágua hoje produz menos água do que em 1998 e gasta menos energia elétrica, devido ao investimento efetuado em tecnologia e em capacitação técnica; lucrou muito com isso também. Quando me perguntam se sou favorável à privatização, sempre cito estes dois casos. Se cachoeiro em 1998 estivesse a um passo de uma mudança no patamar político, do populismo para uma gestão participativa e transparente, eu seria contrário à privatização, pois julgo que o estado sim, tem o dever de prestar o serviço público de qualidade, usando os recursos tarifários para subsidiar serviços de saneamento em localidades não lucrativas. Mas a privatização foi a melhor saída para o município. Não me arrisco a opinar nos casos de alguns municípios paulistas, onde nem sequer agências reguladoras foram criadas.
Acredito que o discernimento com isenção é o ideal, para analisar caso a caso, o que é o melhor para a comunidade local, e não o que é o melhor para fulano, beltrano ou ciclano, seja ele pessoa física ou jurídica. Infelizmente tudo que diz respeito ao saneamento é um cabo de guerra entre estes dois interesses e, é por isso que a nova política de saneamento (Lei Federal 11.445/2007) está levando tanto tempo para ser colocada em prática.

Cachoeiro, o entreposto.

Muito interessante a história de Cachoeiro. Durante a produção de minha dissertação de mestrado, quando comparei o saneamento de Cachoeiro com o de Santo André, tive que mergulhar "nos porões" de Cachoeiro. Utilizei alguns livros, em destaque o livro de Evandro Moreira, em dois volumes. Pouca gente daqui tem idéia de como é rica a história da cidade. Tão rica quanto influente na cultura do cidadão cachoeirense. A cidade se fez como entreposto entre o mar e a serra. As embarcações navegavam até um ponto do Baiminas, quando o rio começava seu imenso cachoeiro. Dali seguiam em tração animal para a serra, em busca de ouro e pedras preciosas. Veio o plantio da cana de açúcar, o plantio do café... e eis que a cidade se fez a partir de um quartel de vigilância, a primeira edificação da cidade. A troca de meio de transporte, embarcação - tração animal, era vulnerável à ação de bandidos. Assim nasceu a "Vila de Caxoeiro". O que isso tem a ver com os dias de hoje? Uma frase que chamou a atenção quando cheguei em Cachoeiro em 2001 foi a seguinte: "Cachoeiro é uma cidade legal porque é perto do mar e perto da serra." Você percebeu o motivo do porque é legal?! Por ser perto de duas coisas boas. Esta frase foi o primeiro insight que tive de cidade de passagem, corroborado pelo estudo que fiz da cidade. A estação é um símbolo da cidade, permanece. Em enquetes em sala de aula, sempre a maioria dos alunos diziam que pretendiam se formar e mudar de cachoeiro. Logicamente que, quem pode, já faz faculdade em Vitória, Viçosa, Vila Velha, Campos, Rio de Janeiro etc. A coisa não para por aí. Quando um cidadão traz a memória de seus antepassados, que vinham de algum lugar para ir para outro lugar, ele não prioriza a fachada de sua casa, joga lixo no chão, não atende bem o turista, afinal, logo logo ele vai para outro lugar. Isto é antropologia, é ciência, pode ser objeto de uma pesquisa mais profunda para ajudar na criação de políticas públicas que visem melhorar o senso de pertencimento do cidadão pelo seu lugar, sua territorialidade. A auto-estima urbana, psicologia social e psicologia do urbano, pode ser alvo de investimento, é possível planejar para que o cidadão futuramente, infle o peito e diga: Cachoeiro é uma cidade boa de morar porque tem um grande parque municipal para passar o sábado, tem um trânsito que flui, ruas organizadas e arborizadas, tem uma feira internacional, excelentes faculdades e um centro universitário, tem um serviço de saneamento com prazo para tratar todo o esgoto da cidade... e, é próxima do mar e da serra.
O fato de ser entreposto pode ser explorado como temática para a criação de um mascote, um slogan, a estação de trem pode ser palco de um grande espaço público no centro da cidade, de fundo cultural.
Uma coisa é certa, um bom projeto, bem feito, de reurbanização da cidade, poderá trazer de volta um passageiro ilustre que deixou a estação e não tem, até o momento, um motivo para descer novamente por aqui: Roberto Carlos. Que tal um projeto amplo, grande, de revitalização da cidade e criação de grandes espaços públicos, entre eles a grande conha acústica do Rei?! Quem sabe ele vem inaugurar?! Muita gente vai querer fazer o mesmo ! ! !

A função do CPDM

Recentemente tivemos discussões acaloradas no CPDM - Conselho do Plano Diretor Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, tendo como foco a ampliação dos hospitais em Cachoeiro. Para quem não sabe o que é CPDM, é o órgão participativo da sociedade que pensa o futuro do município, um conselho formato por representantes de toda a sociedade. Eis que alguns hospitais de Cachoeiro querem ampliar suas instalacões e submeteram seus projetos à prefeitura, que deu sua negativa. Segundo a prefeitura, os projetos são inviáveis, pois estão em áreas que não comportam mais um incremento do número de veículos, caminhões, pedestres enfim, são áreas saturadas. Isto é, segundo o meu ponto de vista, ruim para os hospitais em primeiro lugar, em segundo lugar para os vizinhos destes hospitais e, por último, para quem passar por estas vias. Imaginem, estamos em 2012, uma ambulância tenta chegar ao pronto socorro, o trânsito parado e a sirene zunindo. Certamente um transeunte vai gritar: "Por que não planejaram este hospital noutro lugar?" (hoje já percebemos situações como essa). Aqui está o problema. Tanto hospitais quanto qualquer serviço ou edificação que quiser expandir suas instalações, dirá que quando foi instalado, era um local ermo, sem trânsito. A cidade é que "envolveu o meu negócio". E tem razão. Mas é justamente para isso que existe o CPDM, para pensar, sugerir, melhorar a coletividade Agora é hora de passar a régua e começar a fazer certo! Até hoje ainda se constrói nas margens do Itapemirim... poucos sabem que há leis federais que proibem a construção nas margens do rio, mas como disse um cidadão que construia sua casa: "...cachoeiro inteira foi feita assim, por que vão criar pobrema [sic] pra mim? Se encrencarem, chamo um vereador para resorvê [sic]..." Isto se deu na época da expedição do rio itapemirim, com o testemunho e a participação de diversas empresas e contou com o apoio da TV Gazeta. Na ocasião descemos as margens do rio levantando os problemas da bacia e este cidadão estava com a casa quase pronta, em um lindo recanto do itapemirim, sendo um símbolo da cultura do jeitinho, que se pretende modificar.
Voltando ao planejamento, a idéia nunca foi prejudicar alguém, pelo contrário. O estatuto da cidade possui ferramentas que contemplam os interesses de toda a sociedade, inclusive de empresários. Existem inúmeras maneiras de facilitar a ampliação dos hospitais em locais planejados, já que na época que foram construídos o planejamento era incipiente. Para isso a sociedade deve assumir este passivo de planejamento e fornecer contrapartidas para os hospitais, eles também tem que ser ajudados a criarem instalações públicas dignas, acessíveis, tranquilas e humanizadas. Um terreno grande da prefeitura ou mesmo uma desapropriação próxima de vias de circulação rápida, para facilitar a chegada de ambulância, poderia dar lugar a um polo de saúde, com inúmeras vagas de estacionamento, já pensando em 2020. Se a cidade realmente vai planejar seu desenvolvimento, pode atrair indústrias, novos grupos educacionais, novos shoping centers etc. Uma operação urbana consorciada (ainda precisa ser regulamentada pela câmara dos vereadores mas é prevista no estatuto da cidade), ou uma PPP - Parceria Público e Privada, poderia adquirir as atuais construções dos hospitais com preço de mercado, no prazo que os mesmos precisam para ser construídos em outro local, tudo de forma casada. Por que o próprio estado não pode, em regime de parceria com o futuro polo de saúde de Cachoeiro e em troca de alguma contrapartida, financiar a construção das novas edificações? As soluções existem para ajudar os novos hospitais de Cachoeiro, afinal é de interesse de todos nós a ampliação de leitos hospitalares, não só para cachoeiro mas para todo o sul do estado. Por último, se a sociedade chegar a conclusão que o melhor para todos é a ampliação onde os hospitais estão instalados, há outra possibilidade dentro do estatuto da cidade, que é a outorga onerosa. Esta modalidade de outorga também precisa ser regulamentada, há restrições mas pode ser discutida pelas partes interessadas. Enfim, o forum existe para propiciar a discussão, o que é melhor para todos e o pré-requisito é a intencionalidade hígida, com discernimento e racionalidade.
O boom do desenvolvimento irá catapultar o estado do Espírito Santo para níveis de primeiro mundo dentro de 20 anos, vários órgãos atestam este dado. Durante estes próximos anos, nossa cidade será visitada por grandes grupos educacionais, de saúde, serviços, lazer etc. É preciso criar condições para uma expansão urbana harmônica e planejada e nossos empresários locais tem plenas condições de serem os atores principais desta expansão.

A Política de Cachoeiro

No final da década de 60 cachoeiro chegou a ser uma das melhores cidades do Brasil no quesito qualidade de vida. Foram poucas as personalidades que geriram a cidade durante os 35 anos passados e o novo prefeito parece, de fato, representar uma mudança. Pelo menos algumas coisas corroboram esta possibilidade, ou seja, há intenção de implantar o orçamento participativo, consultar a comunidade antes de oferecer planos de revitalização urbana, colocar o interesse coletivo em primeiro lugar e valorizar o planejamento urbano. Muitos desafios irão aparecer, espera-se que a oposição os coloquem sem medir esforços. Normalmente pequenos jornais acabam servindo de elemento de difamação de novos projetos, muitas vezes antes mesmo destes projetos serem divulgados oficialmente; vereadores podem boicotar as mudanças mais nevrálgicas; interesses inescrupulosos podem fazer ameaças etc. Mas isto é uma realidade comum a todas as cidades que buscam fazer mudanças de fato, acontece no senado, no congresso, nas assembléias e também, nas câmaras de vereadores. É um paradoxo, as mudanças tendem a ser melhores para todos.
Agora uma coisa é certa. A nova gestão terá que ter pulso firme, uma excelente assessoria, do contrário pode frusar a população. Os primeiros dois anos de qualquer nova gestão é fundamental, é o período de testes e a população está na espera pelo tom da música.